Baltazar não voltou para casa, o que fez Blimunda não dormir aquela noite. Esperara que ele voltasse ao cair do dia, haveria os festejos da sagração da basílica, mas ele não voltara.Em jejum, olhando as pessoas que passavam para a festa, estava sentada numa vala e ali ficou, vendo o que os seres carregavam por dentro; recebendo xingamentos, dizendo outros. Voltou para casa, ceou com os cunhados e o sobrinho. Também não dormirá.O rei virá a Mafra e Blimunda não o verá; vai esperar Baltazar pelos caminhos, desesperadamente tentando encontrá-lo: Grita inúmeras vezes por ele:Viu os arbustos arrancados, a depressão que o peso da máquina fizera no chão e o alforje de Baltazar. Procurou por todo lado, os pés sangrando nos espinhos. Começou a subir ao cume do monte, a fim de poder ver tudo ao redor. Mas no caminho estacou, à sua frente caminhava um frade dominicano, corpulento, a quem perguntou pelo seu homem, faltava-lhe a mão esquerda, não o tinha visto? Viera cá por ouvir dizer que aqui habitava um enorme pássaro...
O frade aconselha-a a procurar abrigo, vai anoitecer, poderia dormir ali, nas ruínas do mosteiro. Sentada à beira do caminho, o cabelo desgrenhado, vazia do homem que ama, Blimunda chora e pensa em Baltazar, se morto, se vivo. Depois vai se refugiar nas ruínas onde o frade a busca tentando saciar seus instintos. Mas Blimunda o mata com o espigão de Baltazar. E depois , arrancando o espigão que se fincara entre as costelas do frei, pôs novamente a andar.Depois, imaginou ela a caminho de Pedregulho que ele poderia estar em Mafra, que tinham se desencontrado no caminho e pôs-se a correr como uma doida.À tardinha, chegaram Inês Antônio e Álvaro Diogo e a encontraram dormindo. pela manhã, esquecida de comer o pão, viu-os por dentro, vomitou e Inês achou que ao fim de todo este tempo poderia ela estar grávida.O narrador nos anuncia que D. João V fez quarenta e um anos e que era 22 de outubro de 1730.Durante nove anos, Blimunda perambulou pelos caminhos de pó e lama, de branda areia e pedra aguda, neve. Ainda não queria morrer. Sabia que Baltazar estava vivo e se dispunha a procurá-lo por onde quer que fosse.
Julgavam-na doida, mas ouvindo-lhe as demais sensatas palavras e ações, ficavam indecisos se aquilo que dizia era ou não falta de juízo completo. Passou a ser chamada de A Voadora, e sentava-se, então, às postas, ouvindo das mulheres as queixas. Por onde passava, as mulheres lamentavam, depois, que seus homens não tivessem também sumido, para que elas pudessem, ao menos, devotar-lhes um amor tão grande quanto o de Blimunda a Baltazar. E os homens, quando ela partia, ficavam tristes inexplicavelmente tristes.Pouco faltou para que a tomassem como santa. Milhares de léguas andou Blimunda, quase sempre descalça, "Portugal inteiro esteve debaixo desses passos".Voltava aos lugares por onde passara, sempre indagando. Seis vezes passara por Lisboa, esta, a que vinha agora, era a sétima. Sem comer, o tempo era chegado para ela. No Rossio, finalmente encontrou Baltazar. Havia lá um auto-de-fé. Eram onze os condenados à fogueira; entre eles, estava o brasileiro Antônio José da Silva, o Judeu, comediógrafo autor das Guerras de Alecrim e Manjerona.
segunda-feira, 21 de maio de 2007
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